WALBER PENA

Indiretamente, e como toda criança fantasiosa que viveu sua infância ou adolescência até os anos 80, eu estive ligado ao universo criativo dos heróis e dos jogos analógicos.
Sempre movido e inspirado por mestres da 9ª Arte a viajar pra mundos distantes e imaginativos, criados por gênios como Kirby, Buscema e Eisner. Essa liberdade de expressão alimentou por muitos anos o meu ócio criativo.
Um ócio que a modernidade enfatizou, abafando por muito tempo a vontade de me dedicar ou até mesmo viver dessa arte. A maturidade devagar e calmamente acaba alimentando e mantendo viva essa chama, às vezes pedindo cautela, às vezes cobrando uma dedicação e coragem que não pensava em ter.
Não dá pra dizer que eu não trouxe aquelas influências comigo, também não dá para cobrar como quem não conhece ou não lembra delas, mas estou feliz em revisitá-las e ver que essas lembranças ainda estão comigo, me inspirando...
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Ao longo da vida me vi debruçado, por madrugadas inteiras, em cima de uma prancheta de desenho acompanhado apenas de uma luminária preguiçosa que hoje me cobra muito pelos seus serviços mau prestados, uma mug de café frio e adoráveis felinos, que infelizmente foram muitos, porque só bem tarde descobri uma alma negra na casa ao lado.
Companhia posso dizer que foram poucas, porque também só muito tarde percebi que amigos de verdade são muito raros. As visitas eram incessantes, podiam ser a qualquer hora da madrugada, pois a toca nunca fechava. A todo momento chegava um cliente com um projeto emergencial, alguém precisando de um lugar para ficar quieto ou precisando de um copo de bebida. Mas as paredes sempre foram a melhor parceira.
Em meio a esse silêncio, muitos projetos pessoais foram moldados, muitas estórias foram imaginadas, e ficaram todos na gaveta. Eventualmente abro uma caixa antiga e encontro uma dessas ideias que se perderam no tempo que me parecem muito mais algo de uma outra vida que não lembrava.
Hoje, depois de ter cruzado esse marco de uma metade de vida, e espero sim que seja no mínimo a metade dela, me sinto com uma necessidade imensa de abrir essas gavetas e caixas para deixar essas ideias voarem, tomarem corpo e ganharem a própria vida, mesmo que seja num esboço como um assistente que prepara o barro para o artista final dar forma e corpo.
Neste espaço pessoal, vou tentar em meio ao caos que provavelmente vou criar, mostrar um pouco dessas ideias que em algum momento vão parecer fora de contexto ou de época, mas quando foram pensadas era um outro mundo, uma outra época e tinham o seu propósito pessoal.
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