El Eternauta
- WalberPena
- 6 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2020
Hoje recebi em casa um exemplar de El Eternauta, um personagem que me foi apresentado por um amigo arquiteto argentino, desde então me tornei uma verdadeiro fã. A Comix Zone começou a Lançar recentemente todas as estórias no Brasil. Já faz algum tempo que escrevi sobre ele no Nerdópolis e vou replicar o texto aqui.
Você se imagina sentado na sua casa com amigos pronto para uma partida de truco semanal quando ouvem pelo rádio o relato de uma explosão no pacífico e presenciam uma invasão alienígena e a cidade toda tomada por neve? Parecendo uma releitura de Guerra dos Mundos de Orson Welles.
Criada pelo roteirista Héctor Germán Oesterheld e pelo cartunista Francisco Solano López e publicada na revista Hour Zero Weekly entre 1957 e 1959, El Eternauta (1957), ou O Eternauta aqui no Brasil, é uma dessas aventuras que surgiram nesses por consequência da grande explosão de aventuras de ficção científica dos anos 50. As estórias são introspectivas, auto analíticas e questionadoras.

Tenho uma profunda decepção pessoal por só ter conhecido suas aventuras já na minha fase adulta e ao mesmo tempo em que sinto um certo alívio tamanho o peso de suas narrativas que trás para quem lê uma reflexão pessoal intensa. Algo semelhante acorreu com Conan, O Bárbaro (1932) que também na sua síntese original era um personagem que explorava em suas aventuras o preceitos e questionamentos morais da sociedade adaptadas para aventuras de ficção ou fantasia, totalmente diferente do personagem retratado nas páginas dos quadrinhos.

As estória se passa em uma Buenos Aires invadida por alienígenas e tomada por uma densa camada de neve tóxica que acaba com boa parte da população e a resistência dos que sobrevivem. Oesterheld se coloca como espectador e ouvinte das estórias narradas por Juan Salvo, O Eternauta. Como pano de fundo temos a referência do rádio usado por Wellles, os personagens vão descobrindo meios para sobreviver, a necessidade de busca por alimentos, de união. Aqueles que conseguiram sobreviver ao incidente passam a agir de forma anárquica com o instinto de sobrevivência e auto preservação aflorando levando o homem à atitudes pouco civilizadas.

A roupa de mergulhador, que não é um simples traje, se justifica como peça principal de proteção contra a neve tóxica e que dá um ar diferente ao personagem e ao mesmo tempo tão próximo à gente. Quando criança sempre imaginava que os mergulhadores pareciam astronautas ou viajantes espaciais, isso de certa forma faz com que o personagem mecha comigo e me leve de volta àquele período da infância tão gostoso e repleto de imaginação, de quando uma simples caixa de papelão virava uma nave espacial ou m cabo de vassoura se tornava um alazão, mesmo que naquela época não entendia o que significava isso.
Essa proximidade visual e construtiva do personagem nos leva à uma reflexão tão atualizada que levou a sua reedição em 2015 e concedeu-lhe três indicações para Prêmios Eisner e é considerado um dos trabalhos mais importantes da Argentina e da América Latina.

O ponto mais destacado da obra por especialistas e profissionais da área é a amplitude de informações sutis, as referências veladas e outras interpretações que poderiam ser feitas dela. O próprio Oesterheld, por exemplo, indica que em O Eternauta o protagonismo é sempre de um grupo de pessoas, às vezes menor, às vezes maior, formando assim um "herói coletivo" ou "herói em grupo", o qual valorizava mais que um herói individual. Os invasores são comumente vistos como uma referência aos golpes de estados vividos pelo país do autor.
Nota-se também que, com exceção de "los Ellos", que são mencionados mas não aparecem em nenhum momento, nenhum dos invasores é realmente mau, são seres forçados a cumprirem ordens de outros. Críticos veem nisso um ataque de Oesterheld à guerra, ou uma referência à luta de classes. Não bastasse o clima de medo, o "personagem" tinha que manter a humanidade e ao mesmo tempo a sanidade em um mundo desolado e cruel, onde a lei do mais forte se faz presente e a busca pela sobrevivência moral parece uma impossibilidade quando quem devia proteger passa à caçar. É uma viagem solitária que faz com que O Eternauta seja uma leitura obrigatória, dessas que a gente tem que absorver e remoer internamente. Com seus cenários desolados e ao mesmo tempo intactos nos fazem pensar na desolação individual que nos propomos pelo mundo construído a nossa volta.
Walber Pena
Nerdópolis - 27 de julho de 2018
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